Terapia em tempo de Pandemia

Terapia em tempo de Pandemia

Ninguém podia imaginar uma situação tão complicada e desafiadora nos dias de hoje. Quando já todos vivíamos em stress permanente, um vírus vira-nos a vida do avesso.

Todos adaptámos as nossas próprias funções, quando as famílias têm de reaprender a convivência, como vamos conciliar a terapia nisto tudo? Como conciliar tele escola, tele trabalho, lida de casa, com todos dentro da mesma e sem escape. E as emoções da tele família?

Vale a pena manter todas estas actividades?

Sim, um grande sim! E não é por ser extremamente optimista, mas sim porque os nossos meninos precisam de tudo o que tinham antes. Mesmo que tudo isto pareça um ataque à sanidade mental dos Pais, por eles eu sei que todos vocês vão tentar.

E tentar não significa que os dias vão ser uma produção de hollywood, com música de fundo e imagens em câmara lenta, longe disso!

Tentar é a palavra chave, tentar adaptar novas rotinas, tentar ser paciente, tentar agir com naturalidade, mesmo quando a plataforma de trabalho falha, ou o computador fica sem bateria, ou a Internet resolve ficar mais lenta que uma lesma.

Estão a sentir a angústia?

Será que mesmo assim este sentimento corresponde a um décimo do que os nossos meninos sentem ao verem letras a dançarem à frente sem perceberem quem é quem, ou que raio de música elas trauteiam entre si.

Então vamos tentar proporcionar estabilidade e rotina neste momento, pois é disso que todos precisamos.

Criem metas de trabalho diárias, bem afixadas e explícitas até para os mais desatentos.

Conciliem os horários de terapia para os novos horários escolares.

Não esperem apenas dicas da terapia, façam as tele consultas. Os Pais que nem sempre podem ficar em gabinete esta é uma boa hora para poderem interagir. Tudo é terapia, pois tudo é leitura e escrita, tudo é adaptável.

Para os Pais que têm os meninos no primeiro ano, e a pulga atrás da orelha de Dislexia já está a saltar, quando a aquisição da leitura e da escrita começa a tornar-se muito difícil e já tentámos pelo método tradicional, se não resultou, chega a hora de inovar! E que boa hora essa!

Não, não há resultados mágicos, e tudo o que vou escrever de estratégias pode não resultar, mas estratégias são isso mesmo, tentativas até chegar ao caminho certo.

Todos nós temos uma maneira de memorizar que nos é mais fácil, e ao longo da escolaridade fomos aderindo a alguma sem saber muito bem o motivo.

Quando este processo ainda nos é desconhecido, nada melhor de que explorar todos!

Como assim todos?

Todos os sentidos, vamos usar os nossos Sentidos!

Visão – olhar para o grafema (letra), chegou para memorizar? Dificilmente, então adicionamos cor.

Cada vogal uma cor, cada ditongo uma junção de cores.

E como podemos fazer?

Papel e lápis de cor, fazendo cada grafema da sua cor, recortar letras de jornais e revistas e colar numa folha colorida.

Caçar a vogal, pintar cada vogal com a cor escolhida, qualquer revista velha vai ser um aliado de trabalho.

Tato – Juntámos à visão o tato e estimulamos ainda mais com plasticinas, cor, textura, forma. E lentamente vamos assimilando fonema, grafema (letra e som).

Passe o dedo sobre as vogais feitas com massinhas, oriente o movimento, para que este movimento de motricidade fina fique também associado na memória à produção do grafema quando o fizermos no papel.

Audição – todos nós já ficámos com um música colada na nossa memória, que por muito horrorosa que seja não deixamos de trautear, cantemos alegremente pequenas rimas com as vogais, com os ditongos, consoantes (elas deixam de ter piada à centésima vez, mas sejamos fortes)!

Qual rima? A que criar, apesar de haver material magnífico no mercado, criado por excelentes especialistas que podem ser uma boa aquisição, desde que aplicação seja feita conforme as instruções.

Para os Pais dos meninos, a quem a Dislexia já foi diagnosticada, por favor façam a sessão de terapia da fala. A sessão vai ser diferente certamente, mas o processo terapêutico não deve ser quebrado.

Por outro lado, todas as actividades diárias da casa e da escola podem ser adaptadas.

Ler receitas culinárias e meter a mão na massa, as receitas têm o texto segmentado, o que pode ser uma excelente ajuda. Depois requer memorizar os passos, se necessário voltar a reler o passo a passo e depois executar o que pode (esperemos!) ser um resultado maravilhoso ao paladar.

Criar listas de compras, listas de tarefas, escrita em acção.

Ler regras de jogos de tabuleiro, passar o poder das decisões.

Ler em família e fazer o reconto, aos mais crescidos, criar folhas de resumo de cada capítulo.

A Pandemia pode estar a resistir e não ter data para terminar, mas querem pessoas mais resilientes que um Disléxico! Caminhemos, mesmo que cada um na sua casa e pelo mundo digital.

Sara Lourenço Gomes

Terapeuta da Fala. Durante a minha licenciatura em terapia da fala percebi que afinal todas as dificuldades que tinha sentido na aprendizagem escolar tinham um nome. Talvez por isso seja tão estimulante e gratificante trabalhar e acompanhar o crescimento destas crianças no dia a dia.

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