
Atrás da porta
- Novembro 20, 2022
- por
- Sara Lourenço Gomes
O que se segue? O que está por detrás da porta do final do quarto ano?
Falamos em detetar muito cedo, de preferência ainda no pré-escolar…
De habilidades metafonológicas, habilidades de leitura e escrita, habilidades ortográficas, etc.. concentramo-nos na leitura e na escrita, no aprender a ler a escrever, mas depois não acabam as dificuldades…
Mas afinal o que se segue?
Tantos relatos de dias complicados, de dificuldades de aprendizagem, mas será que isto não vai ter fim?
As dificuldades específicas de aprendizagem englobam vários tipos de dificuldades de aquisição sejam a, ler, escrever, compreender, falar, contar, raciocinar, etc..
Mas quando as dificuldades específicas de aprendizagem se tornam específicas de aprendizagem de leitura e escrita, nomes como dislexia, disortografia, discalculia e ainda a disgrafia entram em quotidianos que desconhecem esta realidade.
Se alguns se encaixam nas dificuldades da dislexia e por isso podem apresentar: dificuldades no reconhecimento preciso e/ou fluente de palavras e por uma reduzida competência ortográfica e habilidades de descodificação. Que podem levar a problemas na compreensão da leitura e uma reduzida experiência leitora, com baixo desenvolvimento do vocabulário e dos conhecimentos gerais, (como bem descrito na definição da Associação Internacional de Dislexia, 2002). Outros podem apresentar Disortografia, uma dificuldade específica no domínio da ortografia que afeta a precisão ortográfica, assim como a capacidade de organizar e expressar os pensamentos e os conhecimentos segundo as regras ortográficas, dificuldades na organização dos parágrafos, apresentar erros gramaticais ou na pontuação das frases (DSM- 5).
Começamos também a ouvir que aquela letra feia, pode ser Disgrafia, que poderá ser definida como uma dificuldade específica no domínio da caligrafia que afeta a legibilidade (quanto à forma, tamanho, espaçamento, alinhamento, traçado e ligação das letras) e a rapidez de escrita, apesar das condições educativas proporcionadas e da ausência de evidente neuropatologia ou perturbação sensório-motora (descrita por Moura, 2021).
Já a discalculia manifesta-se como um desempenho matemático muito abaixo do esperado considerando-se sua idade cronológica, as suas experiências e suas oportunidades educacionais. Surgem as dificuldades no cálculo, no montar a conta (seguir a estrutura da conta em pé), saber identificar qual a operação, identificar quantidades, senso numérico, ler horas e a tão conhecida ansiedade matemática (DSM-5).
Nem todos têm tudo, nem todos têm as mesmas queixas e sintomas, nem todos têm o mesmo grau de severidade. Mas todos têm um caminho longo de trabalho pela frente.
Mas afinal o que se segue?
E como em todas as respostas vem o tão temido, depende!
Depende de quando se começou a intervenção, do quanto se conseguiu compensar, do grau de dificuldade e da severidade do problema.
O principal para os pais é que as crianças aprendam a ler e a escrever, mas estas competências requerem outras competências.
É necessário que criem (de preferência até) à passagem para o quinto ano, métodos de estudo, afinal falamos de dificuldades específicas da aprendizagem da leitura e da escrita, mas sobretudo falamos de dificuldades de aprendizagem.
A aprendizagem não termina no final do quarto ano. Pelo contrário intensifica-se.
Os textos deixam de ser literais, e as inferências, para serem entendias, necessitam de treino diário de leitura. Requerem vocabulário e velocidade de leitura. Necessitam de construção frásica e textual com nexo, de modo rápido e autónomo. Requerem bom conhecimento ortográfico. Por outro lado, a matemática também deixa de ser literal, as operações complicam-se e a interpretação do enunciado também fica mais complexo.
As crianças são bombardeadas com novas disciplinas, e com isto muito mais professores… O tempo em sala de aula com cada um deles é bem menor o que faz com que o professor especialista posso demorar mais tempo a identificar as dificuldades das crianças (que na sua maioria das vezes, já sabem tão bem camuflar).
Mas isto nunca mais tem fim?
Claro que sim… Eles crescem, aprendem/adquirem estratégias, métodos e ritmos de estudo. Aprendem o que é melhor para eles mesmos. Descobrem quando e quanto têm de trabalhar para terem resultados.
Mas vão precisar sempre de vocês Pais.
Precisam que os acompanhem nos trabalhos diários, quer da escola, quer da terapia (sim, os trabalhos da terapia são para serem feitos diariamente!).
Precisam que os ajudem a dominar o relógio e a ansiedade.
Precisam de reforço positivo real e incentivo constante.
Precisam de assertividade e gentileza em simultâneo.
Precisam do vosso amor, afinal vê-los e ajudá-los a crescer faz parte do percurso, este é um bocadinho (às vezes muito) mais complicado.