
Trabalhar com a Francisca em quarentena
- Março 22, 2020
- por
- Patrícia Teixeira de Abreu
Como é que correu esta primeira semana em casa, com as três, sozinha e em teletrabalho?
Foi basicamente o caos.
De repente, eu que sou o “verbo ir em todos os tempos”,e que achava que seria incapaz de passar um fim de semana em casa, fiquei uma semana inteirinha em casa (sem desprimor de me sentir uma sortuda por poder estar em casa e de me proteger a mim e à minha família). Numa primeira fase pensei “ Isto até vai ser bom. Não há horas perdidas no trânsito, estou mais tempo com as miúdas, não há stress, até vou ter mais tempo.”
Tão enganadinha que eu estava.
Acumulei desafios esta semana. A bem dizer confesso que foi das semanas mais longas da minha vida. Começa porque fazer “home office” de vez em quando é óptimo, mas todos os dias não tem graça nenhuma.Faltam as conversas sociais, o café com os colegas, as piadas parvas e as gargalhadas fáceis.Depois, gerir equipas à distância é diferente de estarmos ao lado uns dos outros. Passei horas ao telefone e descobri aplicações novas que nem imaginava que existiam, mas que permitiram fazer reuniões super produtivas.
Choveram mails das escolas (são 3) – eu percebo, faz sentido a preocupação que os miúdos não parem, e concordo plenamente que temos que arranjar meios alternativos, mas só um detalhe:são 3 e só temos um computador. Não vão poder ter todas aulas ao mesmo tempo on-line.Eu sou tecnológica qb.
Almoços, jantares, lanches – estas miúdas estão sempre com fome. Claro que são crescidas e fazem sozinhas, mas eternizam-se as discussões de quem tira a loiça da máquina, quem põe a loiça na máquina, quem arruma a cozinha etc…
Depois precisam sempre de alguma coisa : Mãe,mãe,mãe…
Isto para chegar à questão:como é que eu trabalhei com a Francisca?
Com calma. Com muita calma. Porque sejamos realistas não é suposto isto ser tudo normal e na primeira semana estarmos todos alinhados e a trabalhar em sintonia muito tranquilamente. Isso não existe. Testei (e vou continuar a testar) várias formas de trabalho.A que funcionou melhor foi eu acordar bem cedo e aproveitar muito bem a casa em silêncio (a bem da minha sanidade mental).Depois planear o meu dia de trabalho. A Francisca é das primeiras a acordar e depois ao seu ritmo toma o pequeno almoço e senta-se ao meu lado a trabalhar (já é bastante autónoma- fazemos o briefing do trabalho primeiro e depois recorre a mim ou às irmãs para as dúvidas).Os trabalhos são definidos de véspera pela professora. A ideia é trabalhar de manhã com concentração máxima e depois do almoço com actividades mais lúdicas:escola virtual,ler umas páginas do livro, trabalhar a concentração num livro de jogos específico ou jogar no telemóvel também numa aplicação para disléxicos que ela adora.
É importantíssimo ter tempo para brincar e fazer o que quiser,e o que sinto é que se for assim ela vai fazendo de forma consistente e não se sente em tensão permanente. O segredo é conseguirmos um compromisso mútuo entre a brincadeira e o trabalho que tem de fazer.
É tempo de calma,de nos reorganizarmos, de termos consciência que depois disto o mundo não vai ser o mesmo. Vamos ser realistas, vamos respirar, vamos mudar hábitos e aceitar que é normal que as primeiras semanas sejam chatas, cansativas e frustrantes.
Isso faz parte da nossa função,ajudar os nossos filhos a acomodar toda esta mudança step by step mas dando-lhes (a eles e a nós) tempo para aprenderem a viver de outra forma.
PS- Estas cartas têm sido uma forma gira de aprender Inglês enquanto jogamos ao “peixinho”.
4 Comentários
Maria Helena
28th Mar 2020 - 17:00Boa tarde Patrícia!
uma amiga falou me no seu blog e fiquei curiosa. Parabéns pela sua determinação e pela forma como está a ajudar a Francisca a ultrapassar as dificuldades ao nível da aprendizagem da leitura e da escrita. A minha actividade profissional desenvolveu se ao longo de cerca de 40 anos em que trabalhei com crianças com dificuldades a este nível. O sucesso escolar destas crianças, depende da identificação precoce das suas dificuldades e da capacidade do professor, em parceria estreita com os pais, implementar uma intervenção adequada.
Patrícia Teixeira de Abreu
28th Mar 2020 - 22:46Boa tarde Maria Helena,
Muito obrigada pelo seu comentário. Eu sinto uma enorme evolução na Francisca e acabámos por criar uma relação tão cúmplice que o trabalho diário já é muito mais fácil. Concordo plenamente consigo quando diz que o sucesso depende de uma intervenção adequada entre a escola/ terapeuta e família. Ideias e sugestões são sempre muito bem vindas! Um beijinho Patrícia
Ana
31st Mar 2020 - 22:27Olá , falou numa aplicação para telemóvel, será que podia indicar o nome? Obrigada
Patrícia Teixeira de Abreu
2nd Abr 2020 - 21:52Olá Ana,
Chama-se Capicua.
Um beijinho