
Trabalhar com a Francisca em quarentena – Semana #3
- Abril 05, 2020
- por
- Patrícia Teixeira de Abreu
Esta semana correu melhor. A sorte é que eu tenho uma boa capacidade de adaptação, portanto passado o cansaço extremo inicial, já é mais normal passarmos dias e dias no mesmo espaço a aturarmos-nos mutuamente como se tivesse sido sempre assim.
Sem dúvida que este período nos aumenta a capacidade de trabalho e treina a gestão de conflitos. Aliás até já pensei que quando voltar a trabalhar no escritório (físico) acho que vou sentir que estou de férias: sem crianças, sem aulas on-line, sem trabalhos da escola, sem discussões pelo computador, SÓ trabalhar no escritório e ainda poder almoçar no restaurante,ui…esses dias vão saber a férias, aí vão vão…
A notícia super feliz desta semana foi que saíram as notas dos testes e a Francisca pela primeira vez teve “Bom” a português.
Quando abri o mail e vi a nota até me caíram as lágrimas. A sério. Foi o “Bom” mais difícil da minha vida. A Francisca acordou sonolenta e veio ter comigo à sala, quando lhe disse nem queria acreditar. Acho que foi o abraço maior do mundo.
Claramente que a nota me afectou o discernimento. Achei que com esta motivação extra podia aproveitar a embalagem e continuarmos a trabalhar nas férias como em tempo de aulas. Mega birra. E com razão. “ Já não basta não estar em casa dos avós nas férias com os primos e ainda tenho de trabalhar o dia todo “. Isto seguido de um sentido “ Eu não estou de quarentena mãe, eu estou de FÉRIAS, de FÉRIAS! “. De salientar que passar as férias da Páscoa em Lisboa é algo totalmente novo (para todas nós) e a Páscoa em Lisboa então nem se fala. Nesse dia, fez os trabalhos de birra. Demorou horas e treinou loucamente a minha paciência.
Depois afastei-me – que já nem a via bem – e dei um tempo a mim própria. Não, isto não é com evidente clarividência que se resolve. Em quarentena, em teletrabalho há 3 semanas com as três o que apetece mesmo é dizer-lhe “just like a Boss”: “ Fazes e acabou, que quem manda aqui sou eu”.
Depois contei até 10 várias vezes, e relembrei as formações em liderança, o coaching e os livros que leio para me treinar.
Ouvi-a. Assimilei o que ela estava a sentir e reposicionei-me.
Na verdade ela só queria que, neste período estranho que estamos a viver, sentir que estava de férias, e que embora diferentes eram férias. Tem toda a razão. Perguntei-lhe como é que se sentia mesmo de férias . “ Acordar de manhã e ficar no sofá de pijama a ver televisão com as manas; almoçar, brincar, ver tik tok…”. Concordei, mas pedi-lhe para escolher o horário para os trabalhos. Sentiu-se parte da solução. Escolheu o horário, eu ajustei a expectativa das horas de trabalho ( não vale a pena ter ilusões) e correu lindamente.
PS- Uma proposta gira que lhe fiz para trabalharmos no dia de Páscoa foi escondermos os ovos de chocolate em casa, com pistas para os encontrar (ex.: pistas em que precisa de ler umas frases, pistas com contas rápidas de cálculo mental, perguntas de Estudo do Meio. Vamos ver como corre, mas ficou contente (não sem antes encolher os ombros – como se eu fosse um caso perdido – e de me dizer : “ Tu e o trabalho Mãe, o trabalho e tu …”
Cenas dos capítulos anteriores: