
Filme sobre dislexia
- Maio 20, 2020
- por
- Patrícia Teixeira de Abreu
O blog permite “conhecer” muita gente e rapidamente criar uma rede de partilha incrível.Eu adoro!
Um dia destes, uma mãe enviou-me um e-mail com a sugestão para ver um filme sobre a dislexia – “Como estrelas na terra” (disponível no YouTube).
Já tinha ouvido falar do filme, mas ainda não tinha tido a coragem de o ver. É sobre um miúdo de 8 anos indiano, alegre, traquinas e feliz até a escola se tornar o seu maior pesadelo.A sua dificuldade em aprender é confundida com preguiça e falta de inteligência por isso é gozado pelos colegas, não tem qualquer interesse na escola e ninguém percebe que é disléxico. No decorrer do filme é ajudado por um professor (também ele disléxico) que lhe devolve a alegria,o faz sentir-se compreendido e o ensina de forma diferente – o que potencia a sua evolução exponencial.
Para nós, pais de crianças disléxicas, o início deste filme custa muito a ver. O confronto com a nossa realidade dói sempre – em qualquer estado em que estejamos. Se a mim me custa, a um disléxico muito mais. A partir da parte em que chega o professor e começa a ajudar o miúdo eu e a Francisca vimos o filme juntas. Ela lia metade das legendas e eu o resto. Ficámos as duas abraçadas num silêncio cúmplice a identificarmos aqueles sentimentos que nos são tão familiares.
Não vou contar o filme, porque eu acho que é imprescindível ver (obrigada Rita por ter insistido), mas no fim a Francisca tinha a cara molhada. Sentiu-se profundamente retratada naquela diferença e disse-me “ Obrigada Mãe por me ajudares. Eu queria tanto não ser diferente Mãe. É tão difícil “.
Dei-lhe um abraço gigante e desejei ser mágica para que não tivesse que sentir esta dureza do caminho. “É verdade, é muito difícil Francisca, mas é isso que te torna tão especial”.
Aquilo que sente a Francisca é o que sentem as outras crianças na mesma situação. Sei que há muitos adultos disléxicos que lêem o blog. Com a maior sinceridade, qual é o sentimento enquanto adultos? É a dificuldade que vos acompanha sempre? Chegaram a algum momento das vossas vidas em que conseguiram ver na dislexia uma vantagem? Se puderem partilhem. Vão ajudar certamente muitos pais e muitas crianças, nem que seja a ajustar expectativas.
Sim, porque há dias em que o nosso coração fica apertado – normalmente quando percebemos que não há “breaks” nisto…
2 Comentários
Maria José Bulhão
20th Mai 2020 - 14:23Olá boa tarde vejo muito o seu blog e identifico-me bastante com tudo o que escreve também eu sou mãe dum menino disléxico com 9 anos diagnosticado só em outubro do ano passado e digo só porque desde que começou no primeiro ano vi que havia algo estranho não aprendia nem a ler nem a escrever o professor não quis fazer o relatório para a consulta de desenvolvimento pois não o queria rotular como um menino especial passou o primeiro e segundo ano assim até que o meu filho teve uma convulsão em março do ano passado e foi assim que consegui encaminhamento para o hospital de Évora para pediatria daí pediram consulta de desenvolvimento, psicóloga, terapeuta da fala e embora já calculas se ser dislexia ser confrontado com o diagnóstico eu fiquei sem chão ao ouvir o meu filho a ler um texto grande nada se percebeu parecia um chinês a falar, ela disse para ele explicar o texto que leu o miúdo disse:não sei o que li não entendi nada a terapeuta mandou-o sair da sala eu fui confrontada com a realidade sofri horrores pois tenho 3 filhos sempre o achei a ele o mais inteligente tem sempre resposta para tudo coo era possível não conseguir aprender nada, de Outubro a dezembro não teve consultas de terapia da fala por a médica estar doente em dezembro do nada o meu filho começou a ler já lê muito bem já dá menos erros a letra é péssima não escreve em cima da linha não consegue pegar no lápis como é normal pegar está muito atrasado em relação aos colegas as aulas da telescola e as tarefas acha sempre que é muita coisa cansa-se rápido mas com muito esforço tem feito e entregue tudo no prazo mas não estou preocupada se o passam se o chumbam pois ele tem o ritmo dele diferente dos outros colegas e já percebeu isso apenas quero que cresça feliz e não se continue a achar burro e que não consegue tenho uma filha de 28 um de 15 e este menino de 9 que chorou dia e noite durante 4 anos sem motivo aparente por isso penso que tenho este filho para me por a prova é testar enquanto mãe e vou lutar para que seja um adulto feliz desculpe este desabafo mas nós mães sentimo-nos sozinhas e ninguém entende isso. Obrigado.
Patrícia Teixeira de Abreu
24th Mai 2020 - 0:12Olá Maria José,
Obrigada pela sua partilha. Estes miúdos são espectaculares, de uma sensibilidade imensa e de uma força fantástica.
O blog nasceu exactamente da solidão que descreve, que eu também senti e que muitas vezes ainda sinto. Não está sozinha.
Um beijinho
Patrícia