O nervoso miudinho…

O nervoso miudinho…

No dia anterior ao início da escola  não conseguia dormir.
⁃ Estás nervosa?
⁃ Não.
⁃ Nem um mini bocadinho?
⁃ Estou um bocadinho preocupada.
⁃ Então?
(nos segundos de silêncio que antecederam a resposta fiz logo o filme todo : tem medo dos testes, tem medo de ter de ler ou do horrível cálculo mental em minutos… )
Mas afinal o assunto era muito mais prático. Realmente nós adultos complicamos tudo.
⁃ É que eu saio às 5 mãe. Tu sempre em reuniões como é que me vais buscar?
Descansei-a.
⁃ Claro que vou. Não te preocupes.

De facto não fui buscá-la, mas garanti que às 5h alguém a ía buscar.

Deixá-la na escola foi bom. Sentimos as duas uma sensação de liberdade. Fui para casa e de vez em quando sobressaltava-me “Francisca já estás na aula?”, seguido de um “ah ok já está na escola”.

A semana foi desafiante. Voltou a logística da preparação antecipada dos almoços, o acordar mais cedo, as idas para a escola (mais uns tempos e o carro ficava sem bateria) e principalmente a preparação para os testes da semana.

Os testes geram-nos alguma ansiedade e tornam os dias anteriores infinitos. Para minimizar o esforço, arranjámos um caderno de resumos onde a Francisca vai escrevendo a matéria ao longo das semanas. Na semana dos testes só trabalhamos o que está no caderno. Tudo o que foi identificado como mais difícil está em folhas coladas na parede da cozinha. (para que visualize várias vezes a informação). Também temos um truque para activar a concentração (que eu aprendi nas minhas aulas de PNL) e definimos que o respirar profundamente antes de entrar na sala é a regra de ouro.

Em dias de teste penso imensas vezes nela. É uma preocupação latente que luto para afastar e nada compatível com uma terceira filha. Mas a minha filha é disléxica e trabalhamos muitíssimo, pelo que o que eu mais quero é que corra bem.

Quero que vá para os testes segura, e sem medo das notas. A única coisa importante é dar o seu melhor.

A parte mais frustrante de todo o processo é que ela sabe, mas a pressão do teste bloqueia-a e às vezes não consegue transmitir o que sabe. E é isso que vamos treinar nos próximos tempos: que independentemente da situação ela consiga criar um círculo de confiança que afaste o medo de falhar.

Eu não posso mudar a escola, nem os métodos de avaliação, mas posso ajudar a Francisca com uma estratégia de confiança máxima. O nosso cérebro tem uma parte minúscula do tamanho de uma ervilha que é a amígdala. A amígdala é automaticamente activada quando nos sentimos em perigo e gera automaticamente uma destas 3 reacções de sobrevivência: Fugir,lutar ou bloquear.

A minha parte prática diz-me que a amígdala não é nada boa amiga nos testes, e quando a Francisca fica com medo de não conseguir, a reacção automática é o bloqueio. Contei-lhe esta história toda e a importância de não ter medo para não “acordar” a amígdala. Na verdade ela deve ter pensado que eu não estava boa da cabeça, mas respondeu com um sorriso “ Tu mãe, estás sempre a inventar”

Patrícia Teixeira de Abreu

Vivo a vida com intensidade e acredito que a dislexia pode ser uma oportunidade única de crescimento para uma família de miúdas com garra.

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