
O brilho nos olhos…
- Novembro 29, 2020
- por
- Patrícia Teixeira de Abreu
Às vezes perguntam-me “ como é que tens tempo para escrever?”, “ como é que tens ideias?” . E a resposta é simples: Porque escrever é o meu escape, é a minha melhor forma de comunicar.
Gosto, e na verdade é algo muito fácil para mim. É como se fosse automático. Por isso não me preocupo minimamente, nem me causa qualquer ansiedade escolher o tema, porque na realidade depende da intensidade da semana. E as nossas semanas são tudo menos monótonas. Mas mesmo assim na semana passada não escrevi o post de quarta. Não tive espaço mental para isso. E escrever por escrever não é para mim. Resolvi assumir que essa era mais uma semana muito pouco perfeita.
Nessa semana houve ditado.Sinceramente já nem sei se foi nessa ou na outra, mas também não interessa! Foi mais uma semana de muito trabalho, algumas irritações e muito refilanço, mas no dia do ditado antes do pequeno almoço, quando cheguei à cozinha a Francisca estava a ler as palavras para cima e para baixo para ficar com a fotografia na cabeça.
Eu sorri, e pensei que independentemente do resultado alguma coisa devíamos estar a fazer bem, porque ela quer aprender, não para me agradar, mas por brio, por ela.
Na verdade estes miúdos trabalham imenso. É injusto e às vezes revolta-me, mas a preparação que a Francisca terá para as contrariedades da vida é incomparavelmente maior do que a das irmãs, porque ela treina todos os dias contra uma memória de peixinho que a faz falhar e recomeçar muitas vezes.
O ditado correu muito bem. E não foi preciso dizer nada quando a vi sair da porta da escola carregada com a mochila atrás e o casaco pendurado e o cabelo em desalinho. O brilho dos olhos disse tudo. Não teve zero erros, mas teve muito muito poucos. Só de pensar que há um ano e meio eram 26 erros, diria que parece quase um milagre!
E eu pensei que não a posso proteger das desilusões da vida, dos falhanços que vai ter e das muitas lágrimas que vai chorar, mas posso ajudá-la a construir uma autoestima de leão para que não sinta a dislexia como uma limitação mas sim como uma oportunidade.
É isso que fazemos todos os dias, de forma nada cor de rosa, ou perfeita, mas devagarinho e de forma consistente.