
Criatividade
- Fevereiro 18, 2020
- por
- Patrícia Teixeira de Abreu
Os disléxicos são muito mais visuais que auditivos. Ou seja é muito importante a visualização das palavras para memorizarem. O que eu sinto com a minha filha é que posso pedir-lhe 50 vezes para escrever uma palavra e se for por ditado (sem ter visualizado a palavra) é possível que erre as 50 vezes, mesmo que diga antes as letras que compõem a palavra. É absolutamente desesperante.
É preciso olharem para a palavra. É a imagem que é memorizada. Por isso é tão importante que não vejam palavras com erros. É essa a imagem que vai ficar.
Há uns tempos tivemos a saga dos ditados na escola. Às segundas-feiras tinham ditado. Na primeira semana eu não sabia. Fez o ditado sem treino: dois parágrafos, dezassete erros. Fiquei doente.
Passámos o fim-de-semana seguinte em casa. Treinámos o ditado, nem sei… mais de dez vezes. Foi o fim-de-semana inteiro dedicado áquilo. Brincávamos, fazíamos o ditado, fazíamos o ditado e brincávamos. Cheguei a segunda feira cansada e irritada do fim de semana. Estava ansiosa com o resultado do ditado. Disse-lhe: “Não importa se corre bem ou mal, importa que o faças com atitude. Não fiques preocupada com o resultado”. Fez o ditado. 13 erros. Fiquei frustrada. Depois de tanto trabalho, como é q é possível? Ela ficou triste. Esperava melhor. E eu pensei, não vou voltar a fazer isto. Não resulta. A terapeuta concordou. Não vamos gastar os créditos com algo que não tem retorno nenhum. É melhor investir o tempo com ela nos exercícios específicos que vão permitir a leitura automática do que a tentar algo para o qual ainda não está preparada.
Passámos a treinar os ditados de forma lúdica (e só para não ficar completamente “out”). Escrevo o texto. Recorto as palavras. E à medida que vou ditando ela constrói o texto como se fosse um puzzle. Com 2 brincadeiras conseguimos menos de 13 erros no ditado seguinte. Ficámos as duas muito mais felizes.
4 Comentários
Ana Dias
18th Fev 2020 - 12:06Muito obrigada pela partilha, é bom saber que existem mais pessoas que lidam com os mesmos problemas que nós. Para a maioria das pessoas, incluido professores é dificil perceber que é necessário muito trabalho para se conseguir pequenos avamnços, mas que cada pequena conquista nos enche o coração, vê-los sorrir e a confiar nelos próprios é o nosso melhor pémio! Só com muito amor se consegue avançar, porque existem dias em que desistir seria muito mais fácil para todos!
Patrícia Teixeira de Abreu
4th Mar 2020 - 20:52Olá Ana, é verdade há dias dificeis. Mas também há dias,como diz, de uma alegria imensa em que temos a absoluta certeza que os nossos filhos vão longe. Um beijinho Patrícia
Maria
26th Fev 2020 - 19:08Boa tarde,
Ouvi-a de manhã e estive agora a ler os seus posts.
Em relação ao ditado em sala de aula, não é propriamente pela questão visual ou auditiva. A velocidade a que o mesmo se processa não lhes permite recorrer às estratégias que lhes fornecemos para evitar o erro.
O mesmo ditado feito individualmente , respeitando os tempos da a criança e permitindo lhe aceder aos seus conhecimentos fonológicos terá muito menos erros ortográficos.
Tenho alguns conhecimentos nessa área e peço habitualmente aos professores para não os sujeitarem a essa «penitencia».
Não conheço o caso da sua filha, mas no geral, não direi que os disléxicos são visuais e não auditivos. Será mais um ensino multissensorial.
Gostei do a, que bate com a cabeça para trás, associado ao é grave, é. Estamos sempre a aprender…
Obrigada
Patrícia Teixeira de Abreu
4th Mar 2020 - 20:37Boa tarde Maria,
Obrigada pela sua explicação. Eu também acho que o ensino multissensorial resulta muito.
Todas as ideias e sugestões que possam resultar no trabalho com estas crianças,serão sempre bem-vindas!
Um beijinho Patrícia