A culpa

A culpa

Escrevo num fim de semana off de tudo, porque às vezes precisamos mesmo de parar e de deixar cair algumas coisas. Sem culpa. E esse é um caminho que quero continuar a fazer. Nem sei se deveria escrever isto aqui, mas no outro dia perguntei que tipo de posts gostariam e recebi muitas mensagens com o pedido para estas partilhas. Escrever para mim é terapêutico, faço-o com zero esforço, alinha-me as ideias, pelo que tenho autênticos livros nas notas do meu telemóvel. Decidi partilhar este porque tenho a certeza que há imensas mães que como eu muitas vezes se deixam prender na culpa. E a culpa é tramada.

Pela culpa vamos-nos anulando aos bocadinhos e às vezes tão lentamente que nem damos conta, para que os nossos filhos tenham o melhor, para que os nossos maridos/ namorados se sintam compreendidos , para que os nossos amigos nos sintam sempre acompanhados, para que a nossa família nos tenha sempre presente, para que as empresas tenham o melhor de nós. E vivemos a 1000 a tentar agradar a toda a gente numa canseira louca onde ficamos sempre no fim da fila. E se de facto há alturas na vida que nos temos mesmo de desdobrar em 1000 há que ter cuidado para que não se torne um hábito ou uma desculpa para não nos pormos em primeiro lugar porque achamos sempre que estamos em falta com alguém quando a primeira pessoa com quem estamos em falta é mesmo connosco.

Vão existir sempre filhos a pedir isto e aquilo, namorados/ maridos que amuam com falta de atenção, amigos que que precisam de apoio, família que não nos sente tão presente e chefes que precisam de mais isto e aquilo.Se calhar o que nos falta é mesmo aceitar isso como uma verdade e pronto. (“como se fosse fácil”- responde a minha consciência)

Não vamos salvar o mundo, nem somos máquinas, pelo que antes desta lista de pessoas que nos adoram e a quem temos pouca coragem para dizer que não, tem de existir o nosso “eu” em primeiro lugar. Porque se nós não tivermos bem não ajudamos ninguém. Por isso na vida louca do dia a dia há que encher também o prato da balança com coisas boas para nós. Sem culpa. E às vezes são coisas tão simples como um café à beira mar, um bom livro, um “ não me chateiem durante 5 minutos” , um fim de semana sem fazer nenhum, jantares com amigos, fins de semana a dois e um sem fim de outras coisas.

Para quem como eu sofre deste mal a boa notícia é que isso se trabalha. E é por isso que estou a escrever este post num avião num fim de semana off. “Ah como é que consegues? E as tuas filhas?” “ As minhas filhas estão bem e percebem que para a mãe lhes dar o melhor de si tem de saber criar o seu tempo quando sente que precisa de se focar em si e respirar“. Ficaram com os seus programas de fim de semana e com um voucher para um brunch no seu sítio preferido com um sentido “adoro-vos mil! Bjs Mãe”.

“Ah mas a Francisca tem teste para a semana, não estás a ser egoista?”. “ Não. Pedi ajuda às irmãs para ajudarem.”

Escrevo aqui só para nos relembrar que uma mãe exausta não ajuda ninguém.

Mais fácil falar do que fazer, mas ajuda-me perguntar a mim própria todos os dias: o que fizeste de bom por ti hoje?

Patrícia Teixeira de Abreu

Vivo a vida com intensidade e acredito que a dislexia pode ser uma oportunidade única de crescimento para uma família de miúdas com garra.

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