
Universidade – um sentimento agridoce…
- Setembro 27, 2020
- por
- Patrícia Teixeira de Abreu
Hoje saem as colocações para o ensino superior e fiquei a pensar que se este ano isso não me tira o sono, daqui a uns anos, quando chegar a vez da Francisca, é capaz de me deixar à beira de um ataque de nervos.
A minha filha mais velha acabou o secundário com média de 19. Teve 20 a história no exame e quase 19 a Português. Escolheu Direito e vai entrar na Universidade que quiser. Quando me ligou a dizer as notas senti um orgulho imenso nesta miúda. Nunca estudei 5 minutos com ela, nunca a mandei estudar nem condicionei saídas com os amigos em altura de testes.Cá em casa a lógica é sempre a mesma: liberdade máxima para responsabilidade máxima.
A Maria às vezes refila. Diz que não dou importância suficiente às notas. É claro que valorizo, mas na verdade, na educação das minhas filhas as notas brilhantes nunca foram o meu foco.
Mais do que as notas, que são espectaculares, o que me orgulha mesmo é a capacidade de andar para a frente, que é algo que as minhas 3 filhas têm tão enraizado, e cada uma à sua maneira.
A Francisca não percebe a frustração da irmã com um 16. Acha que isso é coisa de “nerds”, mas adoro quando com um ar espantado e cheio de experiência lhe diz “ Não faz mal. Tenta outra vez. Não vês o que acontece comigo? Às vezes estudo imenso e tenho insuficiente, mas não desisto”
A Maria dá 10 a 1 nas notas à Francisca, mas a Francisca da 10 a 1 na capacidade de lidar com a frustração à Maria. A Madalena dá 10 a 1 a todas na paciência. E é por isso que somos uma grande equipa. Porque nos complementamos, e isso permite que cheguemos muito mais longe.
Nunca comparo resultados nas minhas filhas. Não faz sentido. Ter excelentes resultados não garante que seja feliz e ter mais dificuldades não significa que não atinja os objectivos. Não faz sentido nenhum querermos ser todos iguais. – é prático e confortável, é “by the book”, mas não é eficiente.
A diversidade às vezes assusta, mas é fundamental: nas famílias, nas escolas e nas empresas. Torna-nos melhores. Abre-nos horizontes.É preciso olhar para a diversidade como uma oportunidade e não um obstáculo, e isso nem sempre é fácil. Às vezes é duro, doloroso e pouco confortável.
Apesar da certeza da entrada da Maria na faculdade, confesso que sinto ansiosa. Penso em todos os pais de miúdos disléxicos que esperam ansiosamente pelos resultados, em todos estes miúdos que trabalharam muito mais que os outros, em todos os pais que vão chorar de alegria com a entrada na faculdade dos seus filhos disléxicos e em todos os outros que vão chorar por dentro ao ver que o esforço dos seus filhos ainda não foi recompensado. Como mãe de uma criança disléxica, hoje é para mim um dia agridoce.
Estamos longe de uma sociedade inclusiva, mas o caminho é só um: incluir. Aqui começa a responsabilidade de cada um, onde TODOS temos um papel fundamental. Será que estamos a dar o nosso melhor?
4 Comentários
Madalena Conde
27th Set 2020 - 21:04Uau, que texto tão giro e tão bem escrito 😘
Patrícia Teixeira de Abreu
29th Set 2020 - 20:28Obrigada Madalena!
Um beijinho
Lucinda Matos
14th Out 2020 - 15:07Obrigada por conseguir descrever aquilo que sinto.
Neste momento estamos à espera dos resultados da 2.ª fase para a entrada na Universidade.
Desde os 6 anos até agora aos 18 tem sido um caminho difícil, mas compensador, aprendemos a dar mais valor às pequenas vitórias.
Beijinhos
Patrícia Teixeira de Abreu
14th Out 2020 - 21:33Boa noite Lucinda,
Muito boa sorte!!!!
Sinta-se à vontade para partilhar experiências que correram bem com o seu filho.
Um beijinho
Patrícia