
Persistência
- Fevereiro 25, 2020
- por
- Patrícia Teixeira de Abreu
No Verão fomos de férias durante 2 semanas para o Algarve. Grupo enorme, muitas crianças.
Achei que o melhor seria trabalhar logo de manhã (antes da praia).Levei um plano bem definido pela terapeuta: um livro de matemática, um livro de português e a leitura das palavras de acordo com o método.
Grandes fitas. Porque não quer ser a última a chegar à praia, porque não quer fazer os trabalhos, porque “eu sou uma criança, mãe, por isso preciso de férias”. Um verdadeiro teste à paciência para quem só queria desligar do mundo nessas 2 semanas. Claramente continuamos a fazer progressos: ela nos skills de negociação e eu nos skills da paciência.
Ora, estávamos de férias. Não me apetecia passar as manhãs a gritar. Sabia que não podia ceder e alternava entre uma vontade louca de o fazer e a certeza de que se vacilasse era a morte do artista. Iria negociar até ao final das férias os dias de trabalho.No way.
A média foram dois dias cheia de atitude e um dia em que descarrilava completamente. Como é que isso não deu cabo do meu sistema nervoso? É simples. Acordava cedo ( antes das 7 da manhã) ía correr até um sítio fantástico ( e àquela hora deserto) e voltava antes das 9 revigorada. Nos dias em que descarrilava isso permitia-me manter a calma, não desistir e não perder o foco. Num desses dias disse-lhe, tens 3 hipóteses:
- Continuas a fazer a birra e não vamos à praia. Ficas sentada à frente dos livros e fazes a terapia sozinha.
- Acalmas-te e eu ajudo-te.
- Acalmas-te, ficas cheia de atitude, começamos do zero e ainda chegamos à praia a tempo de brincares.
Primeiro escolheu o 1., e eu peguei no meu livro e fui lá para fora ler. Chorou um bocado ( pus os phones). Quinze minutos, já estava mais calma, entrei, dei-lhe um abraço enorme e passámos diretamente para a terceira opção.
Na minha opinião não vale a pena grandes sermões sobre o tema, afinal a miúda tem 8 anos. O que às vezes precisam mesmo é de algum tempo para lidarem com a frustração, e sentirem que somos firmes. Se é fácil? Nada. Mas o facto de dedicarmos algum tempo só para nós, ajuda bastante. Quanto mais equilibrados e tranquilos estivermos, melhor conseguimos ajudar os nossos filhos. Para isso temos de dedicar algum tempo a algo que gostemos muito de fazer e que nos faça sentir felizes.
2 Comentários
Lúcia Bettencourt Avelar
4th Set 2020 - 10:57Estou a gostar muito de ler os seus textos. A minha filha de 13 anos também tem dislexia e tem sido uma luta. Felizmente agora gosta de estudar e é muito dedicada. Também nós estudamos sempre nas férias, com ela e com o irmão, que tem phda e tod. Quando ela estava no 1º ciclo os nossos dias de férias no Algarve começavam sempre com a leitura de várias páginas de um livro antes da praia. Ela detestava. dizia sempre que mais ninguém estudava nas férias além dela. Até amigos nossos não percebiam. Mas tornou-se rotina e ela acabou por aceitar. Este verão, mesmo em casa e com o Covid, continua a ter de estudar: não quer, mas tem de ler sempre algum livro, para treinar a leitura e a escrita. Está a ler o Principezinho e leu também vários da coleção Ideias Luminosas (livros sobre cientistas mas escritos para crianças e adolescentes). É necessária muita dedicação, deles e nossa, para os resultados aparecerem e se superarem as dificuldades. Mas eles conseguem!
Patrícia Teixeira de Abreu
5th Set 2020 - 21:14Obrigada Lúcia pelo seu feedback e pela partilha da sua experiência. É muito reconfortante “ouvir* mães mais experientes. Sinta-se à vontade para partilhar as estratégias que resultam com a sua filha.
Um beijinho
Patrícia