A Microeconomia das missangas

A Microeconomia das missangas

Tivemos de vir a Lisboa a meio das férias.
– Mãe achas que podemos ir ao Colombo comprar missangas?
– Sim, mas tens dinheiro?
– Sim.
– Francisca vou aproveitar a tua loja de missangas para te explicar algumas noções de Economia.
– Oh mãe por favor – disse ela aborrecida
Mas como estava no carro não teve hipótese.
– Lembras-te que fui eu que te comprei as primeiras missangas?
– Sim
– Não te pedi dinheiro pois não?
– Não. Foste uma “fofi”.
– Então, isso foi um investimento a fundo perdido ou seja eu investi e nunca mais vou ver o dinheiro mas exigi que desenvolvesses o teu negócio. Às vezes ouvimos na televisão falar dos fundos comunitários é mais ou menos isto ok?
– Ah mas isso é espectacular! Quer dizer que Portugal recebe dinheiro e não precisa de pagar?
– Pois é mais ou menos isso, mas tem de usar esses fundos para o desenvolvimento do país. Mas voltando ao teu negócio. Quanto é que vendeste?
– 60 eur
– Boa. Não tiveste custos de matérias primas porque eu fiz o tal investimento inicial a fundo perdido, mas agora a tua empresa tem de ser sustentável, vais ter de pagar os novos materiais. Imagina que vais gastar 10 eur em materiais. Qual é o teu lucro? Sabes o que significa lucro?
– Sim. É 50.
– Boa. Agora imagina que precisas de ajuda a fazer as pulseiras. Tens de pagar salários aos teus colaboradores. Vamos imaginar que o peso dos salários é 30% sobre as vendas. Qual é o valor?
– Oh mãe não sei fazer isso de cabeça
– Então 30% de 60 são 18 eur. Truque: calculas 10% de 60 e multiplicas por 3. Super fácil!
– Então se eu tivesse colaboradores o meu lucro era 50-18
– Certo 32 eur
– Hummm comecei com 60 eur e já vou em 32?
– Ah pois é… e ainda faltam os impostos
– Impostos?
– Ah pois é! Impostos é o que tens de entregar ao estado por teres a tua empresa. É mais de 20% sobre o lucro mas vamos simplificar para 20%. É o que as empresas chamam IRC. Faz lá a conta com truque que te ensinei.
– …
– Dá +/-6 eur. Então ficas com 26 eur de lucro.
– Bolas… – disse irritada- agora já percebo quando dizes que a vida custa!

(Chegámos à loja, ela lá escolheu o que queria e ia pagar quando a senhora perguntou se não queria levar mais nada. Respondeu com um sorriso decidido. “Não muito obrigada, que a vida custa”)

Boa, já tens a micro feita miúda!

Patrícia Teixeira de Abreu

Vivo a vida com intensidade e acredito que a dislexia pode ser uma oportunidade única de crescimento para uma família de miúdas com garra.

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Determinada, entusiasta e enérgica gosto de sentir que crio valor. Desafios que envolvam comunicação, liderança e criatividade são para mim! Gosto do frio da barriga de novos começos. A monotonia aborrece-me e a paciência não é propriamente o meu forte...

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